Doutrina
da Igreja Ortodoxa
Rev. Thomas Fitzger Escola de Teologia Santa Cruz
Contente: Revelação. Encarnação de Jesus Cristo. As Escrituras. Tradição. Concílios e Credo. O Credo.
A Igreja Ortodoxa do princípio até nossos dias manteve uma integridade de fé e amor com a comunidade apostólica fundada por Cristo e assistida pelo Espírito Santo. A Ortodoxia está convicta de que tem preservado e ensinado a Fé Cristã livre de erro e distorção, desde a era dos Apóstolos. Ela também acredita que nada há no corpo de sua doutrina que seja contrário à verdade ou que prejudique a real união com Deus. O caráter de antiguidade e de ultrapassado que muitas vezes caracteriza o Cristianismo Oriental é uma expressão de seu desejo de permanecer leal à autêntica Fé Cristã.
A Ortodoxia considera inseparáveis a Fé Cristã e a Igreja. É impossível conhecer Cristo, tomar parte na vida da Santíssima Trindade, ou ser considerado um Cristão fora da Igreja. É na Igreja que a Fé Cristã é anunciada e preservada. É por intermédio da Igreja que um indivíduo é alimentado na Fé.
Deus é a fonte da fé na Igreja Ortodoxa. A Ortodoxia considera que Deus revelou-se a Si próprio para nós, mais particularmente na revelação de Jesus Cristo, o qual nós o conhecemos como o Filho de Deus. Esta Revelação de Deus, Seu amor e Seu desígnio, são constantemente tornados manifestos e atuais na vida da Igreja pelo poder do Espírito Santo.
Fé Ortodoxa não dá origem a especulações religiosas puramente humanas nem às assim chamadas "provas" da existência de Deus, nem à procura humana pelo Divino. A origem da Fé Cristã Ortodoxa é a própria Revelação de Deus. Cada dia a Prece Matinal da Igreja proclama e nos recorda disto declarando: "Deus é o Senhor e Ele Se revelou para nós." Enquanto o Ser íntimo de Deus permanece sempre desconhecido e inacessível, Deus manifestou-se a Si próprio para nós; e a Igreja O tem reconhecido como Pai, Filho e Espírito Santo. A Doutrina da Santíssima Trindade, que é central para a Fé Ortodoxa, não é um resultado de especulações piedosas, mas a suprema experiência de Deus. A doutrina proclama que há apenas um Único Deus no qual há três Pessoas distintas. Em outras palavras, quando nós encontramos ou o Pai, ou o Filho, ou o Espírito Santo, nós estamos verdadeiramente experimentando contato com Deus. Enquanto a Santíssima Trindade é um mistério que nunca poderá ser completamente entendido, a Ortodoxia compreende que nós podemos participar verdadeiramente da Trindade através da vida da Igreja, especialmente através de nossa celebração da Eucaristia e os Sacramentos, tanto quanto dos serviços não sacramentais.
Encarnação de Jesus Cristo
Juntamente com a crença na Santíssima Trindade, a doutrina da Encarnação ocupa uma posição central nos ensinamentos da Igreja Ortodoxa. Conforme a Fé Ortodoxa, Jesus é muito mais que um homem santo ou um mestre proficiente de moralidade. Ele é o "Filho de Deus que tornou-se o Filho do Homem." A doutrina da Encarnação é uma expressão da experiência de Cristo da Igreja. N'Ele, a divindade está unida à humanidade, sem a destruição de nenhuma dessas realidades. Jesus Cristo é verdadeiramente Deus que tem em comum a mesma realidade igualmente com o Pai e o Espírito. Além do mais, Ele é verdadeiramente homem que compartilha com todos nós do que é humano. A Igreja acredita que, como o único Deus-homem, Jesus Cristo recolocou a humanidade em comunhão com Deus.
Pela manifestação da Santíssima Trindade, pelo ensinamento do significado da autêntica vida humana, e pela vitória sobre os poderes do pecado e da morte através de Sua Ressurreição, Cristo é a expressão suprema do amor de Deus o Pai, por Seu povo, tornado presente em cada época e em cada lugar pelo Espírito Santo através da vida da Igreja. Os grandes Padres da Igreja resumiram o ministério de Cristo nesta clara afirmação: "Deus tornou-se o que nós somos de tal maneira que nós podemos nos tornar o que Ele é."
As Sagradas Escrituras são altamente respeitadas pela Igreja Ortodoxa. Sua importância é expressa pelo fato de que uma parte da Bíblia é lida em cada serviço de Louvor. A Igreja Ortodoxa, que se reconhece a si própria como a guardiã e intérprete das Escrituras, considera que os livros da Bíblia são um testemunho precioso da revelação de Deus. O Antigo Testamento é uma coleção de quarenta e nove livros de vários estilos literários que expressam a revelação de Deus aos antigos israelitas. A Igreja Ortodoxa considera que o Antigo Testamento é uma preparação para a vinda de Cristo e acredita que deveria ser lido à luz de Sua revelação.
O Novo Testamento está focalizado na pessoa e obra de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito Santo na Igreja primitiva. Os quatro Evangelhos são um relato da vida e ensinamento de Cristo, centralizados em Sua Morte e Ressurreição. As vinte e uma epístolas e os Atos dos Apóstolos são dedicados à vida cristã e ao desenvolvimento da Igreja primitiva. O Livro da Revelação é um texto altamente simbólico que prevê a volta do Cristo. O Novo Testamento, especialmente os Evangelhos, é muito importante para a Ortodoxia porque ali se encontra um testemunho escrito da revelação perfeita de Deus na Encarnação do Filho de Deus, na pessoa de Jesus Cristo.
Embora a Bíblia seja muito preciosa como um inestimável registro escrito da Revelação de Deus, ela não contém aquela revelação em sua totalidade. A Bíblia é considerada unicamente como uma expressão da revelação de Deus na vida em marcha de Seu povo. A Escritura faz parte do tesouro da Fé que é conhecido como Tradição. Tradição significa aquilo que é "transmitido" de uma geração a outra. Além do testemunho da Fé na Escritura, a Fé Cristã Ortodoxa é celebrada na Eucaristia, ensinada pelos Padres, glorificada pelos Santos, expressa em orações, hinos e ícones; preservada pelos sete Concílios Ecumênicos; contida no Credo Niceno, manifestada em preocupação social; e, pelo poder do Espírito Santo, subsiste em cada paróquia ortodoxa local. A vida da Santíssima Trindade é manifestada em cada aspecto da vida da Igreja. Finalmente, a Igreja, como um todo, é a guardiã da Fé Cristã autêntica, a qual dá testemunho daquela Revelação.
Como a Ortodoxia tem evitado qualquer tendência de restringir a visão da Revelação de Deus a apenas um aspecto de sua vida, também a Igreja tem evitado a definição sistemática ou extensiva de sua Fé. A Ortodoxia afirma que a Fé Cristã expressa e sinaliza para o benevolente e misterioso relacionamento entre Deus e a humanidade. Deus tornou-se homem na pessoa de Jesus Cristo não para instituir uma nova filosofia ou código de conduta, mas principalmente para nos conceder "vida nova" na Santíssima Trindade. Esta Verdade, que é manifesta na Igreja, não pode ser apreendida totalmente em linguagem, fórmulas ou definições. A essência da Fé não é oposta à razão, mas frequentemente está além dos limites da razão, assim como estão muitas das realidades importantes da vida. A Ortodoxia reconhece o Poder Supremo de Deus, bem como as limitações da mente humana. A Igreja está feliz em aceitar o elemento de mistério em seu caminho para Deus.
Somente quando as verdades fundamentais da Fé são seriamente colocadas em perigo pelas falsas doutrinas é que a Igreja age para definir dogmaticamente um artigo de fé. Por esta razão, as decisões dos sete Concílios Ecumênicos da antiga Igreja indivisa são consideravelmente respeitados. Os Concílios foram sínodos a que os bispos de todo o mundo Cristão reuniram-se para determinar a fé verdadeira. Os Concílios Ecumênicos não criaram novas doutrinas mas proclamaram, em um lugar determinado e num tempo determinado, o que a Igreja sempre acreditou e ensinou.
O Credo Niceno, que foi formulado nos Concílios de Nicéia, em 325 e de Constantinopla em 381, foi reconhecido desde então como a expressão oficial das doutrinas fundamentais da Igreja Ortodoxa. O Credo é muitas vezes apresentado como o "Símbolo da Fé." Esta descrição indica que o Credo não é uma declaração analítica, mas que sinaliza para uma realidade maior que si própria e à qual dá testemunho. Para gerações o Credo tem sido o critério de Fé autêntico e a base da educação Cristã. O Credo é recitado na hora do Batismo e durante cada Divina Liturgia.
O Credo
- Creio em Um só Deus, Pai Onipotente, Criador do céu e da terra e de todas as coisas visíveis e invisíveis.
- E em Um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos.
- Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial com o Pai, através de quem foram feitas todas as coisas.
- Por nós e por nossa salvação Ele desceu do céu e encarnou-se pelo Espírito Santo e a Virgem Maria e tornou-se Homem.
- Foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado.
- Ao terceiro dia ressuscitou conforme as Escrituras.
- Ascendeu ao céu e está sentado à direita do Pai.
- Virá novamente com glória julgar os vivos e os mortos. Seu reino não terá fim.
- E no Espírito Santo, o Senhor, Vivificador, que procede do Pai, que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, que falou pelos profetas.
- Na Igreja una, santa, católica e apostólica.
- Confesso um só batismo para o perdão dos pecados.
- E aguardo a ressurreição da morte; e a vida do tempo futuro. Amém.